História

Publicado em Corpo de Bombeiros

Os anos iniciais 

Fundada em 21 de Março do ano de 1922, a Associação dos Bombeiros Voluntários de Oliveira do Hospital (A.B.V.O.H.) nasce justamente sob o pavor das chamas.

Num dia que os mais velhos ainda guardam na memoria, dezenas de populares, praticamente impotentes, assistem à deflagração de um incêndio de grandes proporções em pleno centro da vila. As chamas alastram violentamente e o edifício que albergava uma «Casa de Hóspedes» é completamente reduzido a escombros.

Mas graças ao empenhamento de verdadeiros bombeiros sem farda consegue-se, com recurso a incontáveis cântaros de água, evitar uma tragédia de maiores dimensões. O fogo devasta a pensão de Maria da Glória da Costa Barata, mas impede-se a sua propagação a outros edifícios vizinhos, nomeadamente ao local onde se encontra instalada uma farmácia de Fausto Soares.

Ângelo da Costa Carolo- nascido em 1919-, não se recorda desse fatídico dia porque na altura ainda era uma criança de berço. Mas alguns anos mais tarde, ouviu da boca dos progenitores uma história que por pouco não estaria hoje em condições de contar. É que ele é um sobrevivente desse incêndio e foi posto a salvo por Armindo Lousada, na época proprietário de um estabelecimento da fazendas e miudezas no rés-do-chão do edifício em chamas. De acordo com a recolha de alguns testemunhos credíveis, Armindo Lousada, num cenário de verdadeiro pânico, lembrou-se da existência daquela criança e apressou-se a retirá-la do edifico.

Mas este incêndio- contrariamente ao que se tem vindo a dizer e até mesmo a escrever- não ocorreu no entanto na actual Pensão Comércio, mas sim num antigo imóvel localizado no largo que hoje tem o nome de Ribeiro do Amaral (fig.1).

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Figura 1- Largo Ribeiro do Amaral: antiga pensão onde no início dos anos 20 deflagra um violento incêndio.

A pensão Comércio só é construída posteriormente e em consequência da família proprietária da antiga Casa de Hóspedes ter ficado privada daquelas instalações Contudo, foi a partir desse trágico dia que alguns dos então responsáveis pelos destinos do concelho perceberam que era urgente dotar Oliveira do hospital com uma Corporação de Bombeiros. Dão-se os primeiros passos nesse sentido. E Fausto Soares,(fig.2) – na altura presidente da Câmara Municipal- e Aguilar Teixeira da Costa,(fig.3) encabeçam o movimento que vai dar origem à sua criação.

Figura 2 - Fausto Soares : Fundador, em 1922 e primeiro Presidente da Direcção da A.B.V.O.H.  

 

     

 Figura 3 - Aguilar Teixeira da Costa : Fundador, em 1922 e primeiro Comandante do Corpo Activo

 

Os Bombeiros da Fundação

Tudo isto acontece em 1922, data em que Aguiar Teixeira da costa – eleito desde logo como 1º comandante do corpo activo-começa a recrutar os primeiros doze bombeiros, (fig.4). Todos alistados no mesmo dia, 10 de Outubro de 1922. E o primeiro bombeiro é António Sebastião madeira, (fig.5) um marceneiro de 31 anos a quem é entregue, entre outros equipamentos, “ uma farda em cotim militar, um capacete com cordão, um cinto com machado e um apito com cordão”. 

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 Figura 4 - O primeiro Corpo Activo de bombeiros da A.B.V.O.H.  

 

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Figura 5 - Documento do primeiro alistamento do Corpo de Bombeiros da A.B.V.O.H.

O Primeiro Quartel de Bombeiros

Entretanto, quatro anos mais tarde, em 21 de Março de 1926, toma posse no Salão das Secções da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital a primeira direcção. E Aguiar Teixeira da Costa, mandatado pelo presidente Fausto Soares, continua embrenhado nas obras da construção do quartel-sede da A.B.V.O.H.

Surgem dificuldades financeiras, mas nos cofres da Associação vão entrando algumas receitas provenientes de determinadas iniciativas que visam angariar fundos para a construção do quartel. Os fundadores não arrepiam caminho e, em 1927, por ocasião das «festividades de Sant’Ana», para fazerem face às despesas decidem promover, nos dias 6 e 7 de Agosto, aquilo que designam como um «Bazar de Prendas». A receita excede as expectativas e os bombeiros arrecadam com aqueles festejos “sete mil seiscentos e doze escudos e cinquenta centavos”.

Em 6 de Novembro desse mesmo ano, Aguilar Teixeira da Costa participa à direcção que “o edifício que vai servir de sede à associação já está concluído”. É no rés-do-chão do quartel situado no largo Dr. Lourenço Justiniano da Fonseca, precisamente ao lado do antigo Café Brasil, o rés-do-chão do edifico é então destinado a acolher o primeiro material de incêndios e ainda a estação do corpo-activo (fig. 6 e 7).

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Figura 6 - O primeiro quartel sede da A.B.V.O.H.

 

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Figura 7 - Pessoal em exercicio na primeira Casa-Escola em madeira

Mas no início dos anos 40, a aquisição de uma “ caminheta Ford” obriga a que seja feita uma ampliação ao quartel.

Em 19 de Outubro de 1962, este edifício foi vendido em hasta pública por um lanço de 100 contos à «Obra de D. Josefina da Fonseca», uma instituição de “protecção à criança e formação domestica”.

Entra o ano de 1928 e, a 29 de Janeiro, Fausto Soares dá lugar a um novo presidente da direcção – António Fragoso Vieira de Abreu. Aguilar Teixeira da Costa, que na fase da construção do quartel entrega o posto de comandante a Bernardo Leite de Magalhães Coutinho, é novamente eleito para o cargo e a direcção deixa de se reunir no salão das secções da Câmara Municipal para passar a fazer no quartel recém construído.

A escassez de meios financeiros continua a ser um dos principais pontos da ordem do dia nas reuniões de direcção. Mas como a necessidade aguça o engenho, as iniciativas surgem em catadupa. Fomenta-se o aparecimento de novos sócios, promovem-se saraus e ainda se consegue que as famílias mais desfavorecidas sejam contempladas com um subsídio proveniente da «Caixa dos Pobres», uma espécie de fundo financeiro criado propositadamente para acorrer aos mais carenciados.

Em 1928, por exemplo, a direcção cessante deliberou atribuir “um subsídio de 10 escudos à mulher de um pobre da Quinta da Costa que se encontra gravemente doente”. 

Mas Aguilar Teixeira da Costa não se importa sequer em financiar do seu próprio bolso o desenvolvimento da Associação que ajudou a criar e que teimosamente insiste em desenvolver. 

E então, tendo sempre em vista a funcionalidade e eficácia do corpo de bombeiros que comanda, é ele próprio a emprestar dinheiro aos bombeiros para a aquisição do material de incêndios que considera indispensável. Ao longo de vários anos a A.B.V.O.H. foi sempre amortizando o capital em divida, mas o comandante Aguilar nunca fez questão de cobrar juros.

Em 1 de Abril de 1928, a A.B.V.O.H. contava apenas com 170 sócios e a quota mensal variava entre um e dois escudos. Manuel Rodrigues Lagos, por exemplo- um dos principais beneméritos e impulsionadores desta associação –, é admitido sócio em 2 de Julho de 1933 como sócio protector com uma quota mensal de dois escudos e cinquenta centavos.

Mas independentemente da escassez de recursos financeiros, os bombeiros não deixam por isso de desempenhar um importante papel em termos da manifestação de alguma solidariedade social às famílias mais pobres. Nesta matéria, as actas da época revelam com muita frequência a atribuição de algum apoio financeiro aos estratos sociais mais desfavorecidos. Na véspera do dia de Natal de 1930, por exemplo, foram distribuídos 200 escudos “pelos pobres mais necessitados das freguesias do concelho”. 

Na década de 30, esta associação, juntamente com a Câmara Municipal, dá também uma importância colaboração numa “acção de combate anti-tuberculose” e os objectivos que conduziram à criação deste corpo de bombeiros começam aliás a ser demasiado evidentes no contexto da sociedade oliveirense e de alguns concelhos vizinhos. A. B.V.O.H. impõe-se rapidamente e as manifestações de apoio a este projecto surgem dos mais variados quadrantes. 

 

Em 1937, Basilio Caeiro da Matta mostra-se reconhecido “pelos serviços tão diligentemente prestados, por ocasião do incêndio de parte da Casa Esporão” e, voluntariamente, envia para a A.B.V.O.H. um donativo de um conto de réis; o jornal Voz de Oliveira promove, em 1938, uma subscrição aberta com o fim de ajudar os bombeiros a comprar uma motobomba.

Mas as manifestações de reconhecimento provêm das mais variadas entidades, como a Companhia de Seguros «A Mundial», que em Dezembro de 1935 atribui à A.B.V.O.H. um subsídio de mil escudos ”pelos relevantes serviços prestados pelo corpo activo em incêndios em que a mesma companhia é seguradora”. 

Entretanto, as dificuldades financeiras persistem. Aguilar Teixeira da Costa vai informando a direcção de que o material existente na corporação é “muito diminuto e insuficiente para qualquer extinção de incêndios”.

Em 1937, no incêndio da Casa do Esporão, por exemplo, o comando e alguns bombeiros deslocaram-se até Midões num automóvel de aluguer.

O primeiro automóvel destinado a servir de pronto-socorro da corporação- um Lancia posteriormente adaptado e encaroçado numa empresa de Oliveira do Hospital – só é adquirido em 1930 e com o auxílio financeiro de Aguilar Teixeira da Costa. Mais tarde, Fausto Soares oferece um auto-ligeiro Peugeot, mas passados alguns anos, em 1941, esta duas viaturas são vendidas para Poiares pela importância de três mil e duzentos escudos.

Em 1940- já Mário Tavares Mendes ocupava o lugar de 1º comandante desde há cinco anos – é adquirido o pronto-socorro que vem substituir o velho Lancia. O Chassis do Ford sofre obras de adaptação e constata-se que o quartel não tem dimensões suficientes para albergar esta viatura. No entanto, resolve-se proceder a uma ampliação do edifício através da construção de uma garagem que permita o aparcamento de um dos automóveis que hoje é peça de museu e que tem a alcunha de «o cadeirinhas» (fig.8). 

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 Figura 8 -  O "cadeirinhas"

O Toque da Sirene 

Antigamente, sempre que era necessária a rápida intervenção de um corpo de bombeiros tocava-se o sino da igreja e, consoante o número de badaladas, decifrava-se o local onde era preciso ocorrer.

Hoje, o toque da sirene substitui o sino, mas também funciona de acordo com o número de toques. 

Eis como se registou a evolução deste “código sonoro” que nos dias de hoje, sobretudo no verão, toca por vezes incansavelmente.

Antigamente Hoje 
Sinais de Incêndio                                          Toque de Sirene
 Toque a rebate - Vila           1 Toque -Chamada de um motorista 
 20 Badaladas -freguesia          2 Toques -Chamada  para a isntrução
 10 Badaladas - fora da àrea da freguesia           3 Toques - Incêndio florestal ou rural
          Toque Contínuo e Aflitivo - Fogo urbano ou industrial e outro tipo de situações com gravidade

 

A mudança para a segunda Sede 

Depois da venda do antigo edifício que vinha ocupando desde 1927, em 1962 a Associação muda de “casa” e começa a instalar-se no seu novo quartel-sede, situado na rua que mais tarde passaria a designar-se por “rua dos bombeiros voluntários”.

Nos anos sessenta, esta mudança de instalações não só representou um passo gigante como também veio proporcionar um significativo aumento de funcionários à corporação. O início desta construção, num terreno cedido pela Câmara Municipal, é desencadeado pela direcção de Lúcio Dias Coelho, mas obtém uma importantíssima participação de Manuel Rodrigues Lagos, na altura presidente da Assembleia – Geral da Associação.

Este edifício, que mais tarde foi alvo de obras de ampliação, importou num custo de quatrocentos e vinte e quatro mil novecentos e trinta e cinco escudos e o início da sua construção processou-se sob a alçada de Comissões de Honra Executiva.

No decorrer dos anos 60, uma das importantes fontes de receita dos bombeiros centrava-se no êxito que esta Associação conseguia alcançar anualmente com a realização de uma das mais afamadas festividades da região – as Festas da Vila. 

Mas para o arranque deste arrojado projecto do novo quartel- que obtém a comparticipação do Estado em 30 por cento -, a A.V.B.O.H. queixa-se da falta de verbas e através de um prospecto (fig.9) apela encarecidamente à participação da população.

 

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Figura 9 - Reprodução de um folheto editado pela A.B.V.O.H. com vista a recolher fundos para a construção do novo quartel

 

Os bombeiros na dobragem do século

No final de 1980 e início dos anos 90 a A.B.V.O.H. começa a preparar a abertura de um outro importante capítulo da sua história.

Durante estes anos todos, a dimensão da associação, vem-se transformando repentinamente e começa a perspectivar-se a sua entrada no seculo XXI. Como diz o poeta, o “Homem sonha a obra nasce”. E em 30 de Janeiro de 1994 é inaugurado o novo quartel-sede. Abre-se então uma nova página na vida desta Associação, que passa a deter um incomensurável protagonismo no contexto da região-centro.

Tendo como sede um edifico amplo e moderno que ainda é actualmente o quartel. Com cerca de dois mil e duzentos associados e intervindo em  das  freguesias do concelho de Oliveira do Hospital, a A.B.V.O.H.